Não sei jogar

Sei que é muita pretensão da minha parte, mas a idéia desse (mais um) blog é retratar o dia-a-dia através das lentes (onde estão os meus óculos?) tão pouco usadas por todos nós...

Monday, September 11, 2006

Estela e Marcelo ou Era uma Vez...

Vou contar uma história antiga porque as novas já estão muito velhas.

"Era uma vez, em uma cidade muito grande"...

Estela me procurou assim que se separou do marido para me pedir ajuda. Tinha ficado no apartamento provisoriamente. Era um pequeno apartamento alugado localizado em bairro da zona norte. Quarto e sala ajeitado, porém com excesso de apetrechos decorativos.

Nós éramos muito amigos. Do tipo que saíam do trabalho juntos para irem jantar quase todos os dias da semana. Na verdade éramos um quarteto: Jorge, Estela, eu e às vezes uma amiga casada que morava longe. Fizemos a mesma rotina durante dois anos de nossas vidas. Íamos ao cinema, shows e jantávamos ou almoçávamos no fim de semana. O marido de Estela ía nos fins de semana com a gente. Era muito ocupado por exercer cargo de superintendência na empresa que trabalhava. Um dia Estela desconfiou de Bruno. A relação começou a azedar. Faltava tempo da parte dele que alegava motivo de horas extras e negócios nos fins de semana. Tudo isso adicionou-se ao envolvimento com uma das gerentes da empresa. Era o mundo desabando
em cima da relação.

Tinham se conhecido muito cedo. Por força do trabalho ele viera parar em cidade grande. Mantinham o namoro por carta. Ela esperando a primeira oportunidade financeira para poder casar. Veio a primeira promoção para supervisor e o pedido de casamento. Novos e inexperientes, porém felizes. Na segunda promoção, ele conseguiu uma vaga para a esposa em um departamento que não era subordinado a sua superintendência. Apesar do parentesco, os dois eram competentes e independentes um do outro. Talvez o único problema no trabalho era o horário de chegada de Estela. Sempre chegava 30 a 45 minutos atrasada. A chefe compreensiva resolveu propor novo horário. "Que tal 11 horas em vez de 10?" - inquiriu a bondosa senhora.

Horário alterado, vida nova no trabalho, quem sabe. Só que , como se fosse ligada no automático, Estela passou a chegar às 11:30 h da manhã. Tudo como antes no quartel de Abrantes. E a vida foi passando. Quando veio a separação, ela resolveu pedir as contas. Não queria ficar num lugar a mercê de comentários sobre a sua vida ou ter que viver cenas de comiseração. Foi à luta!

No primeiro mês de separação, ela me pediu para ir morar com ela provisoriamente. Tinha medo que ele tentasse voltar na marra. Passei a dormir na sala. Num colchonete ao lado de uma montaria de cavalo. A sala era onde tinham mais objetos de decoração. Era compensado com os excelentes pratos que Estela fazia para jantar. Procurou ajuda espiritual. Foi até uma senhora rezadeira que morava em cidade próxima. A senhora não cobrava consulta. Estela agradecida pela ajuda levava cestas básicas. Aquilo atenuava seu sofrimento e ajudava-a no recomeço da vida.

Logo começava a obter respostas do seu excelente currículo. Duas empresas tinham se interessado. Ela escolheu a que pagava menos, mas lhe oferecia maior desafio profissional. O patrão era muito atencioso com todos os funcionários. Tinha um sócio que era seu próprio irmão.

Tinha se sentido perturbada ao ser apresentada a Marcelo. Mas deixou passar o que sentiu. No aniversário da empresa que foi comemorado com festa no local do trabalho, aceitou carona do Marcelo até sua nova casa. Havia alugado um imóvel que pertencia a empresa, mas ficava distante do Centro da cidade. Durante a viagem Marcelo contou-lhe do casamento que estava desabando. Da sensação que tinha tido ao conhecê-la. Que não conseguia mais esconder os seus sentimentos. Que não sabia mais o que fazer, como se comportar nem o que dizer diante dela. Começaram a namorar. Marcelo seria o segundo namorado de Estela em 30 anos de vida. Totalmente diferente de seu ex-marido. Carinhoso, pontual, meigo, porém casado. Tinha um filho pequeno que ele dizia prendê-lo à esposa. Ela, segundo ele , era possessiva, autoritária e não cuidava direito da criança. Estela não sabia como viver a nova situação. Aos poucos as pessoas na empresa começaram a perceber o envolvimento. Marcelo foi chamado pelo irmão mais velho. A situação foi discutida na própria família. Começaram as pressões em casa que fizeram Marcelo entrar em crise.

Ele lembrou que muito antes de casar tinha procurado um astrólogo. Esse ao ler seu mapa, lhe advertiu: "Não case com a primeira mulher que lhe atrair, mesmo que ela engravide de você. Você por volta de 30 anos vai encontrar a sua alma gêmea. Só com ela você poderá ser feliz! não esqueça disso.'" Ele esqueceu. Casou com a primeira mulher que conheceu e engravidou antes do noivado. Se é que ficaram noivos!

Estela compreendeu que por mais que até os astros recomendassem aquele idílio, Marcelo não havia se preparado para ser feliz na vida. Na hora que precisou decidir o que fazer, se acovardou. Deixando sua chance de um amor duradouro escorrer entre os dedos.

"E assim, naquele reino distante habitou a tristeza. Até os pássaros pararam de cantar ao perceberem que não basta que um casal se ame. É necessário que haja vontade maior do que os obstáculos da vida para que as pessoas fiquem juntas."

11 Comments:

  • At 4:12 PM, Anonymous Anonymous said…

    Histórias à parte , é muito bom tê-lo de volta , Paulo! Por onde andou durante todo esse tempo cara?

    Abração!

    PS:Desculpa a falta de memória , mas quem era o Anima Dominum?

     
  • At 5:11 PM, Blogger anouska said…

    achei a história tão triste... inda bem que nem todas as histórias de amor terminam assim. bj

     
  • At 5:51 PM, Anonymous Anonymous said…

    Little Paul is back!!! :-)

    Soberba esta história, Amiguinho... Tanta gente que não se prepara pra ser feliz... Muito profundo, isso!!

    Um beijão!!

     
  • At 9:19 PM, Blogger Syrena said…

    Eu acho que conheço esse astrólogo!!!
    Por acaso ele é argentino!!!
    Afffff... Nem me fale, de marcelos já tô cheia!!!
    Bjs

     
  • At 3:58 AM, Anonymous Anonymous said…

    Edu,
    Ontem lembrei de vc. Ronzi ligou aqui para casa.Beijo para vc.


    Syrena,

    Astrólogos não têm poderes sobre nossas vidas. Tá explicado no seu belo texto.

    bj,

     
  • At 12:40 PM, Blogger kingthere said…

    Lindo, Polinho!! Valeu a espera, mas não vale deixar seus leitores tanto tempo sem suas palavras. Faça como eu (que estou presa - literalmente - enterrada numa montanha de trabalho, projetos e estudo) e poste pelo menos uma ou duas vezes na semana...

    E visite os amigos, Seu Moço.

    Quanto a Estela e Marcelo...

     
  • At 1:11 PM, Blogger Paulo de Tarso said…

    Tá bom. Tá bom! Prometo que vou visitar. Começarei por vc e depois irei na casa do Ronzi, a tal de popelaria.

    bjs,

     
  • At 11:01 PM, Blogger Maricota said…

    Qt tempo!!! Estava fazendo falta seu blog atualizado!!! :)
    Prometo q voltarei e postarei com mais frequencia...
    Beijos

     
  • At 6:38 AM, Blogger Paulo de Tarso said…

    Obrigado Maria!

    bj,

     
  • At 5:03 PM, Anonymous Anonymous said…

    Paulinho, saudades suas, de suas conversas nos cafés e das saídas com vc e Cris. Agora, além das campanhas, tenho um vira-latas lindo em casa pra me ocupar! Ele chegou hoje e, por isso, eu estava meio enrolada na hora q vc ligou.
    Ah! Amanhã vou msm pra praia de Icaraí de manhã.
    Adorei ver a Renata na caminhada das mulheres, mas não gostei de vc ter ido até lá com ela e não ter nem ido falar comigo!
    Bjins!

     
  • At 6:14 AM, Blogger Paulo de Tarso said…

    Cândida,
    Quem lhe disse que fui na Passeata das
    Mulheres? Sou menino!!! hehehehe

    bjs,

     

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