Não sei jogar

Sei que é muita pretensão da minha parte, mas a idéia desse (mais um) blog é retratar o dia-a-dia através das lentes (onde estão os meus óculos?) tão pouco usadas por todos nós...

Thursday, February 16, 2006

Hoje é o Primeiro Dia do Resto da sua Vida


Como já vinha esperando, saíram os cds dos Mutantes. Só que dessa vez remasterizados. Bem do jeito que os ex-integrantes gostariam de fazer na época em que revolucionaram o rock nacional. Eles foram bons de música e tecnologia. Numa época em que quem mandava no país usava uniforme verde oliva, os caras mandavam letras irreverentes. Desde o primeiro disco (chamado"Os Mutantes") tiveram influências fortíssimas do tropicalismo. A participação do grupo acompanhando Gilberto Gil no Festival da Canção é histórica e no primeiro vinil mandaram recado claro gravando Panis et Circenses. Não tenho esse cd mas prometo que não vou perder a chance de comprá-lo. O meu vinil levaram e não sei onde foi parar. Tempos atrás não controlava direito meu pequeno acervo. Só fui aprender a zelar por cds depois que ficou cansativo contá-los. Deixo com vocês, a crítica publicada ontem no JB, do baterista dos Titãs, Charles Gavin, aos discos relançados antes tarde do que nunca.
Os Mutantes (1968) -
É o primeiro álbum da banda e foi gravado em meio ao movimento tropicalista, do qual o grupo também fazia parte. Rogério Duprat fez os arranjos e Manuel Barenbein produziu. Guitarras distorcidas, vocais com echo exagerado, apitos, percussão, órgão farfisa e efeitos especiais. Rigorosamente necessário.
Mutantes (1969)

Segundo disco. O grupo faz parcerias com Tom Zé (Qualquer bobagem e Dois mil e um) e investe em composições próprias também. O genial arranjo para orquestra que Duprat fez para a faixa Fuga número II (um dos seus maiores clássicos) indicava que estavam diretamente conectados com Abbey Road. Por outro lado, há violas caipiras, efeitos eletrônicos e principalmente muito humor nas letras - característica que se tornou marcante e definiu a cara da banda. Absolutamente necessário.

A divina comédia ou ando meio desligado (1970)

O trio aposta mais em suas composições e convida o jovem baixista Liminha e o baterista Dinho para as gravações. A banda acabaria se tornando um quinteto no projeto seguinte. O resultado é pouco menos experimental do que os álbuns anteriores. Mas ainda há traços marcantes do tropicalismo - a canção da velha guarda da música brasileira Chão de estrelas (Silvio Caldas/Orestes Barbosa) é resgatada com colagens, efeitos, jazz, mudanças rítmicas e, obviamente, muito humor na interpretação. Há também o superclássico, marca registrada dos Mutantes, Ando meio desligado. Absolutamente necessário.

Jardim elétrico (1971)

Agora os Mutantes têm cinco cabeças. Compõem engraçadas letras em inglês e espanhol e a sonoridade muda um pouco. Mas a ironia e o deboche predominam. A banda ganha o status de supergrupo, devido aos arranjos complexos que elaboram. Duprat ainda está presente nos arranjos para orquestra. O clássico Top Top marcou época. Absolutamente necessário.
Mutantes e seus cometas no país dos baurets (1972). Arnaldo Baptista vai para a produção e este é, sem dúvida, o disco mais rock'roll e mais pesado da fase clássica da banda. O título da primeira faixa, Posso perder a minha mulher, minha mãe, desde que eu tenha o rock and roll, tornou-se lema para muita gente. As mães reclamaram, é claro. Mas não era só isso. A faixa Balada do louco, cantada magistralmente por Arnaldo, foi um tapa na cara do regime militar e da caretice burguesa do começo dos anos 70. A hora e a vez do cabelo nascer, um visceral rock hendrixiano, também sofreu a ação da Censura, mas acabou entrando no disco, graças à ótima mixagem que escondeu alguns trechos da letra. Rigorosamente necessário.

Hoje é o primeiro dia do resto de sua vida (1972)

O disco entrou para o projeto de remasters graças a um papo que Marcelo Fróes, produtor do projeto, teve com Rita Lee em 1999. A rainha do rock brasileiro revelou que este trabalho foi creditado a ela por razões jurídicas e financeiras, mas o projeto era uma criação da banda, que já havia lançado naquele ano o álbum Mutantes e seus cometas no país dos baurets. Talvez ninguém tenha desconfiado porque Rita Lee canta em todas as faixas... Necessário.
A e o Z (1992). Produzido pelos Mutantes, as faixas foram originalmente gravadas em 1973, após a saída de Rita. Foi lançado somente em 1992. Muito rock'n'roll, mas a química já não era a mesma. Necessário.
Tecnicolor (1999)

Gravado em Paris em 1970 durante uma turnê, já com Liminha e Dinho. Os clássicos da banda foram cantados em versões inglesas com a intenção de alcançar o mercado europeu. As masters foram guardadas pela gravadora e encontradas somente em 1998 por Fróes. O álbum foi lançado em 1999, finalmente. Ótimo disco. Absolutamente necessário.

Rogerio Duprat/ A banda tropicalista do Duprat (1968)

O disco está no projeto porque os Mutantes participaram dessas gravações como banda de apoio em quatro faixas. Extremamente raro, o LP é disputado a peso de diamante na Ebay e nos sebos de vinil do mundo todo. Somente agora (graças aos céus) foi relançado. Obra-prima, jóia do movimento tropicalista, o disco dá o seu recado já na primeira faixa: um pop com guitarra distorcida, solo de cuíca, arranjos a la musicais da Broadway, buzina de carro e por aí vai. Aqui se encontra de tudo: Beatles (Lady Madonna e Flying), Carmem Miranda (Chiquita Bacana), TomJobim (Chega de saudade) e Gilberto Gil (Frevo rasgado) em leituras eternamente modernas. Vale muito a pena ter esse CD. Corra! Rigorosamente necessário.

16 Comments:

  • At 7:53 PM, Blogger Lili said…

    Resumindo, moço-Paulinho, e concordando: tudo de Mutantes é absolutamente necessário!
    A-do-ro Mutantes.
    Tenho em CD "Os Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets" e uma coletânea bem legal, da série Perfil. Daí tem mais algumas coisas em vinil, que ficaram com a mama em Sampa. E agora, depois de muito procurar, finalmente consegui o Tecnicolor com um amigo meu, que ripou pra mim. Mas ainda falta... e eu quero.
    Bjo.

     
  • At 3:27 AM, Blogger Olha...e se eu pudesse entrar na sua vida... said…

    quem quer ter uma boa biblioteca, pega emprestado mas nao empresta, jah dizia minha prof de Literatura norte-americana. Acho que o mesmo deve se aplicar a cds... a nao ser aquele da norah jones seu que eu "furei"de tanto ouvir, lembra?

     
  • At 3:49 AM, Blogger Unknown said…

    Preciso muito de tudo isso!!!!!

     
  • At 4:38 AM, Blogger Ronzi Zacchi said…

    Mutantes é tudo de bom, senhor Paulo.

    Faz parte de qq playlist básica sobre rock nacional.

    Já escutou o terço, imagino.

     
  • At 8:01 AM, Blogger Lili said…

    Olha que maluca, eu. O CD é da série Personalidade, não Perfil.
    Bjo.

     
  • At 2:52 PM, Blogger Bruno Capelas said…

    AHHHHHHHHH...nem me fale em Mutantes , Paulinho... a começar pelo meu nick , sou fanzaço deles e tou muito a fim de comprar os discos. Já tenho o Baurets - doidera total - , o Technicolor - onde Jimi Hendrix e Paulinho da Viola se encontram - e o prog Tudo Foi Feito Pelo Sol - Yes cantando em português. Dos lançados , nunca escutei o Banda do Duprat , e dentre os dos Mutantes , gosto muito do Desligado e do primeiro. O segundo vem logo abaixo e por último o Jardim , que achei um tanto chato... e o Hoje È é sensacional.

    Um abraço!

     
  • At 3:42 PM, Blogger Luiz Afonso Alencastre Escosteguy said…

    Que bela notícia. Coisas da minha época... deixa assim, velho é assim mesmo, heheh vou procurá-los. abração

     
  • At 4:24 PM, Blogger Paulo de Tarso said…

    Lili e Edu,

    Eu também quero todos que me faltam: Jardim, Baurents, Comédia e Technicolor...

     
  • At 4:24 PM, Blogger Paulo de Tarso said…

    Mari amiga distante,

    Vc tem toda razão! Bela lembrança da Norah.

    bj,

     
  • At 4:26 PM, Blogger Paulo de Tarso said…

    Ronzi,

    Tenho tudo do Terço.

    abs,

     
  • At 4:27 PM, Blogger Paulo de Tarso said…

    Mutante e D. Afonso,

    Mutantes é tudo de bom. Pena que eles não topem fazer uma apresentação tipo reencontro.

    abs,

     
  • At 7:48 PM, Blogger Syrena said…

    curto horrores!!!
    e hj lembrei muito de vc, pq fui pra Transamérica ver o Vladi Flores e Dib, fazerem o Detonando... Melhor parte, Pedro soltando as vinhetas da rádio!!!
    Tudo de bom...
    Bjs,
    Dj Glaucia Lix

     
  • At 5:23 AM, Blogger Paulo de Tarso said…

    Gláucia,
    aproveitando o assunto: a rádio Cidade de Niterói não acabou literalmente. Foi vendida para a rádio Oi de Belo Horizonte. Em breve teremos duas opções de ouvir:
    rádio ou celular.

    bj,

     
  • At 5:35 AM, Blogger Syrena said…

    Eu sei Paulo... Mas Radio Rock Mineira, no Rio, é foda! Vão tocar o quê? Remix de Beto Guedes ft. Nirvana? Born to Be a Pão de Queijo? Me poupe!!! E as pessoas que vão ficar DESEMPREGADAS? Pra mim é a mesma coisa que acabar... E aguarde, pq a Jovem Pan é a próxima, soube que quando acabar o contrato, a franquia não será renovada...
    É, e viva as rádios evangélicas!
    Bjs

     
  • At 5:19 AM, Blogger anouska said…

    como a rita tá gracinha nessa foto! eu gosto dos mutantes e da rita pós mutantes. mas só no comecinho. bj

     
  • At 5:40 AM, Blogger Paulo de Tarso said…

    Gláucia,
    A proposta musical é criar um mix de rádio Globo com Paradiso. Quanto ao desemprego, será em massa
    Sugiro entrar em contato com os ouvintes da rádio Cidade. Quem sabe
    não nasce um movimento em defesa da programação e dos empregos. Pelo menos isso!!!

    bj,

     

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