Não sei jogar

Sei que é muita pretensão da minha parte, mas a idéia desse (mais um) blog é retratar o dia-a-dia através das lentes (onde estão os meus óculos?) tão pouco usadas por todos nós...

Sunday, February 05, 2006

H e l e n a

H e l e n a

Parece nome de personagem de novela, mas se fosse teria que ser de novela mexicana. Tenho uma amiga herdada da minha esposa que não tem sorte na vida. Muito bonita, culta, professora de inglês de uma grande universidade particular, viaja muito por conta do seu trabalho. Falar dela é fácil, o difícil é por onde começar e como explicar assuntos tão doloridos por ela vivenciados.

Ontem, fomos às pressas para a casa dela de tarde. Sua mãe havia tido mais uma crise mental, dessas que a pessoa fica mais agressiva do que normalmente. Dessas crises que parecem que não vão ter mais fim. Ou melhor, que o fim da crise pode ser o fim da pessoa ou dos que a rodeiam. Como conter a pessoa que lhe deu a vida nesse mundo? Que lhe criou desde o aleitamento, passando pelas primeiras palavras e primeiros passos. Nessa hora, quando você precisa ter atitudes fortes e decisivas diante do ser que será referência até o dia da nossa morte, falta-lhe força e coragem. A situação vinha se arrastando há tempos. Crises menores haviam acontecido, o médico especialista que atendeu diagnosticou bipolaridade e passou forte medicação. Com o tempo, o tratamento foi sendo rejeitado pela paciente. Não havia muito como controlar. Helena trabalhava todos os dias e não podia ficar acompanhando os horários exatos da medicação. Discussões aconteciam por conta disso, mas o dia-a-dia fazia com que as causas fossem esquecidas. Havia o risco dos filhos adolescentes vivenciarem alguma situação de risco por conta das crises. Só que a gente nunca pensa que vai acontecer, principalmente se for com alguém de quem temos uma visão de amor e gratidão. Só que acabou acontecendo, exatamente dentro do quadro médico previsto para pessoas bipolares.
A única alternativa seria levar a uma clínica com estrutura ambulatorial. Na cidade havia uma, só que distante, do outro lado. Sem carro, sem ninguém para acompanhar na hora que você mais precisa de alguém. Lá foi Helena, deixando os filhos na casa dos avôs paternos, esquecendo de fechar a porta do apartamento e levando no pensamento a dúvida se aquilo seria certo. Internar alguém é sempre um ato de força de alguma das partes. Normalmente não queremos ser internados em nenhum tipo de clínica. Se o fazemos é por ordem médica ou pressão familiar que nos leva ao médico que faz a internação. No caso da mãe de Helena, havia alguma consciência de que algo estava errado. Mas o que? Daí a aceitação de ir até a clínica de saúde mental da cidade. Lá, após a entrevista, o médico indicou como caso inspirador de cuidados maiores. Sem oferecer muita resistência a mãe aceitou temendo a perda do controle mental definitivo.
C o n t i n u a..

8 Comments:

  • At 8:43 AM, Blogger Olha...e se eu pudesse entrar na sua vida... said…

    que situacao dolorosa, mas ter amigos que se preocupem com ela tambem eh bem importante, como vc sempre diz, todo mundo pergunta como vai o doente, nao como vai quem tah carregando o doente nas costas... beijo grande pra vc amigao, saudade.

     
  • At 2:32 PM, Blogger Paulo de Tarso said…

    Mari querida, os riscos de vivermos juntos são sempre menores do que vivermos separados. Bjm
    Pequena Simy, vc está de parabéns! Vai ganhar uma escova amarelinha! bj,

     
  • At 3:33 AM, Blogger Unknown said…

    Eita... :-(

     
  • At 3:01 PM, Blogger Bruno Capelas said…

    Belo nome. Há pessoas ótimas que não merecem os dramas vividos. É difícil , mas a vida é assim.

    Um abraço!

     
  • At 6:24 PM, Blogger Syrena said…

    ah.... como eu conheço isso....
    minha tia querida, pessoa maravilhosa.... hj, graças ao Dr. Antônio, não precisa mais ficar internada....
    qq coisa, diz pra essa moça me ligar....
    bjs

     
  • At 10:02 AM, Blogger Ronzi Zacchi said…

    Quase pronto, quase pronto... até hoje a noite o corpo do Frankstein estará pronto, então só faltará o cérebro...

    *risada macabra*

     
  • At 3:01 PM, Blogger Paulo de Tarso said…

    Mari,
    O pior de tudo é vc ter a consciência pesada pelo que tem que fazer para curar. No caso a internação.

    Mutante,
    Belo nome, triste história.

     
  • At 4:38 AM, Blogger Lili said…

    Deve ser muito doloroso mesmo. Eu tenho um caso de doença crônica (vício) na família e sei como é difícil lidar com essas delicadezas. Sempre parece que estamos sendo invasivos, sempre pensamos que vai passar, que pode ser feito de algum outro jeito.
    É muito triste.
    Bjo.

     

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