Não sei jogar

Sei que é muita pretensão da minha parte, mas a idéia desse (mais um) blog é retratar o dia-a-dia através das lentes (onde estão os meus óculos?) tão pouco usadas por todos nós...

Saturday, January 07, 2006

Morando na Rua



Pela manhã quando passei pela rua Miguel de Frias, avistei oito moradores dormindo debaixo de uma marquise. Chovia. Uns já estavam acordados, inclusive um bebê de dois anos. Outros dormiam ainda por falta de algo melhor.

O Rio de Janeiro abriga a segunda maior população de rua do país. Sendo que aqui, por conta do tipo de colonização, forma de abolição da escravatura, etc, já estamos indo para a quarta geração de moradores de rua. Alguém consegue acreditar que o cara que eu encontro sentado no banco do ponto de ônibus é neto de morador de rua? Os estudos comprovando isto foram feitos por uma ONG holandesa há cinco anos atrás. Ninguém contestou até hoje!!!

Resolvi pedir providências. Liguei para o Projeto " Volta para Casa". Lá, o senhor que me atendeu, disse-me que a Kombi que recolhia as pessoas, estava em outro município. Não me dei por vencido. Liguei para o gabinete do prefeito e falei com a secretária dele que me atendeu prontamente fazendo contato com a Secretaria de Asistência Social. Lá, lhe informaram que a informação de que a Kombi tinha ido para São Gonçalo não procedia. Rebati veementemente a contra-informação e disse que ficaria aguardando as providências. Até porque senti que meu pleito era bem visto no gabinete do Prefeito.

À noite fomos ao teatro. Na porta do CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) encontramos uma das vendendoras do Projeto Ocas. Tentando resumir este trabalho fantástico: ele se propõe a resgatar a cidadania de moradores de rua através da venda de uma revista mensal de variedades (cultura, política habitacional, direitos humanos, etc) nas portas de cinemas e centros culturais. Preste atenção quando for a um destes lugares! Você vai se emocionar com a história dos vendedores e com o belo trabalho do qual participam.

Quando voltamos tarde da noite, Cris resolveu fazer o caminho a pé e acabamos passando pela rua Miguel de Frias. Já não estavam lá, os oito moradores de rua que foram levados para o abrigo da prefeitura. Me senti fazendo parte de uma sociedade que luta contra o fato consumado. Como diz minha mulher, não podemos ter síndrome de Gabriela: "eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim..."

9 Comments:

  • At 3:46 AM, Anonymous Anonymous said…

    Que bom que vocês são assim... Adoro-lho-lhes!

     
  • At 10:25 AM, Blogger Olha...e se eu pudesse entrar na sua vida... said…

    aqui tem um projeto igualzinho, os caras vendem revista na rua, gritam BIG ISSUE! BIG ISSUE! fala assim biguixuuu, biguixuuu, hehehe

    vc continua o mesmo, bom saber!

    bjos

     
  • At 2:32 AM, Blogger Madame said…

    Síndrome de Gabriela... Só vocês mesmo.
    Felizmente aqui em Americana nós temos pouquíssimos moradores de rua, poucas favelas e as áreas de saúde e educação são razoavelmente bem cuidadas.
    Não é um lugar perfeito, claro, mas é um bom começo.

    Beijos.

     
  • At 4:03 AM, Blogger Paulo de Tarso said…

    Edu, bondade sua! Nós também lhe amamos!!!

    Mari, continuo chatinho do mesmo jeito!Beijos...

    Simy, vc tem que voltar para as Minas Gerais. Lá, tudo é brejeiro.

    Lili, vc é produto do meio em que vive. Americana deve ser um ótimo lugar, onde deve existir qualidade
    de vida. E devem existir pessoas maravilhosas como vc. Bj,

     
  • At 4:29 AM, Anonymous Anonymous said…

    Paulinho,
    eu só tenho uma reclamação a esse respeito: tem pessoas que preferem ficar na rua. Copa é um desses exemplos - alguns levantamentos já foram feitos mostrando que grande parte desses mendigos que se instalam nas áreas nobres das cidades não querem ir para abrigos pois lá não ganham o que ganham nas ruas "nobres". Os mendigos de Copa tiram fortunas diárias (um amigo meu, que tem uma banca de jornal em Copa, diz que eles aparecem duas, três vezes por dia pra trocar dinheiro, muito dinheiro).
    O brasileiro, querendo ser bonzinho, em vez de encaminhar pro serviço social, como você fez, sustentam essas pessoas na rua. Quem vai querer batalhar ganhando tudo de mão beijada?
    Uma pena.
    Bjo.

     
  • At 2:14 AM, Anonymous Anonymous said…

    Não conhecia essa expressão sindrome de gabriela. Gostei. E parabéns pela atitude. abração

     
  • At 9:51 AM, Blogger Paulo de Tarso said…

    Sra. Cheveux e D. Afonso,
    Aprendi a expressão Síndrome de Gabriela com minha patroa, Dona Cris. hehehehe

    Lili,

    Falta uma política adequada da Prefeitura do Rio. Quando morei aí, nos idos do primeiro mandato do Imperador Cesar Maia, ele mandava recolher os moradores de rua e despejá-los nas cidades limitrofes.

    Bjs e abs,

    paulinho

     
  • At 5:37 PM, Anonymous Anonymous said…

    Paulinho,
    falta. E não só no Rio. Falta em praticamente todo o Brasil.
    Em São Sebastião, cidade do litoral norte de SP, a prefeitura espalhou placas por todo canto: "Não dê esmolas. Encaminhe para um centro social da prefeitura" e o telefone embaixo. Foi a atitude mais bacana que já vi de uma prefeitura nesse sentido. Como S.Sebas é uma cidade de muito turismo, a esmola é fácil, mas eles preferem arrumar uma solução, não abafar o problema. Mas isso é raro.
    E soma-se essa galera que faz a vida pedindo esmola. E pede porque tem gente que dá. Eu procuro nunca dar dinheiro. Dou comida, dou roupa, dou o que eu posso, mas acho ainda errado, porque eu também ajudo a manter esse pessoal mal-acostumado e nas ruas. Mas infelizmente tem sido assim porque os governos não fazem muito a respeito.
    Em Sampa vai ter até rampa anti-mendigo do Serra, pra que os ditos não fiquem nas áreas nobres ("que pelo menos fiquem na periferia e não emporcalhem a cidade").
    Não acha triste tudo isso?
    Bjo.

     
  • At 4:45 AM, Anonymous Anonymous said…

    Bacana, Paulo. E que bom que,finalmente, consegui ver seu blog...abração!

     

Post a Comment

<< Home

|