Sem relógio

Faz três finais-de-semana que não uso meu relógio de pulso. Aproveitei-me de uma doença para não marcar o tempo. Confesso que me senti estranho nos primeiros dias, mas depois que restabeleci a saúde, pude refletir melhor sobre viver sem controle do tempo.
Keka dorme todos os dias na mesma hora, isto é, contrariando a lógica dos gatos, troca o dia pela noite. Às 6 horas em ponto ela nos acorda reclamando de alguma coisa: água, comida ou caixinha de areia lotada. Keka não usa relógio, não vive correndo atrás de comida, água ou necessidades fisiológicas. Mas sempre sabe a hora certa das coisas. Samara não marca a passagem do tempo. Quando voltamos da rua, faz muita festa para nos receber. Independente do tempo que ficamos fora, sejam 5 minutos ou 8 horas. Só os homens aceitam o controle do tempo. Vivem correndo para ir trabalhar, pegar o ônibus, comprar pão ou jornal. Assistir um filme no cinema ou futebol na televisão. Tirar o relógio do pulso provoca a sensação de jogar uma coleira fora depois de termos andado desde a tenra idade usando-a. O meu primeiro relógio (marca Classic), ganhei aos 7 anos. Depois ganhei um sueco da minha madrinha, logo após comprei um digital e anos atrás ganhei um belo Mondaine da patroa. Nesse momento uso o pulso
livre. Antes de ir para o trabalho, vou colocá-lo já pensando na volta, quando o esconderei em cima do armário de CDs. Alguém sabe quanto tempo gastou lendo esse texto? Quanto tempo ficará usando o computador? Quantos blogs visitará e durante quanto tempo? Para que serve o controle do tempo?