Não sei jogar

Sei que é muita pretensão da minha parte, mas a idéia desse (mais um) blog é retratar o dia-a-dia através das lentes (onde estão os meus óculos?) tão pouco usadas por todos nós...

Tuesday, February 21, 2006

Meio-ambiente

Terça-feira, 14h30.
A campainha da casa de Sandra Andrade Lugli, moradora do bairro Santa Terezinha em Santo André, ABC Paulista, toca mais uma vez. Agora, não é nenhum vendedor, correio ou o vizinho do lado. A visita é do jovem agente ambiental Bruno Zarzan, 17 anos, do programa Casa a Casa, desenvolvido pelo Instituto Ação Triângulo. Bruno inicia a conversa identificando o trabalho do grupo e passa diversas informações sobre consumo consciente. Ele lembra a moradora da importância de se dar um destino correto a materiais como pilhas e também ao óleo de cozinha, grandes depredadores ambientais e hoje ainda jogados de qualquer forma na natureza.
"Lá no interior, onde a gente morava, o óleo era jogado na terra mesmo. Mas, aqui vai pra pia. A gente não sabe muito o que fazer com os materiais, para quem doar aqui na cidade", afirma Sandra.
No final da conversa, Bruno orienta a moradora a separar o material que, no próximo mês, os agentes irão retirá-los.
"Eu achei ótimo vocês virem na minha casa passar estas informações. Agora vou separar tudo o que eu tenho", anima-se Sandra.
No outro lado da rua, a moradora Aparecida Gomes Menezes, que já havia recebido o grupo de agentes ambientais nos meses anteriores, entrega à jovem Tatiane Rosa sua parte do óleo de cozinha separado. São 2 litros de óleo que deixaram de ser despejados na rede de esgoto, córregos ou rios. "É preciso preservar o meio ambiente. Meu filho mesmo vive me dizendo: 'vocês adultos estragaram o mundo'. Bom, agora eu estou tentando ajudar a consertar", conta Aparecida, que também faz reciclagem do lixo. Depois de mais uma visita, os agentes seguem adiante, pois ainda irão percorrer muitas ruas até às 18h, horário em que encerram as atividades. Nos outros bairros, cerca de 60 agentes ambientais fazem o mesmo trabalho. Nem a chuva ou o sol forte atrapalham a disposição dos jovens agentes. No dia seguinte, tudo recomeça e outros moradores irão receber informações sobre a prática de novos hábitos, principalmente quanto ao descarte de materiais e resíduos. Os moradores são incentivados também a participarem da coleta seletiva e doarem roupas usadas, distribuídas em comunidades de baixa renda. São ações simples que irão colaborar para a garantia de um desenvolvimento sustentável da cidade. Além de orientar, os agentes preenchem ainda um cadastro com todas as informações sobre a casa, como, por exemplo, se a família já faz parte da coleta seletiva, se contribui com projetos sociais, se foi sensibilizada pela campanha, entre outras informações. A proposta é formar um grande banco de dados e mapear a cidade quanto ao comportamento dos moradores. A ação Casa a Casa já é desenvolvida há um ano e meio pelo Instituto Ação Triângulo, em caráter experimental inicialmente em Santo André. Nesse tempo, foram visitadas 14 mil residências, com o recolhimento de cerca de 10 toneladas de óleo e 1,5 toneladas de pilhas e baterias. Neste ano, a ação ganhou o apoio da empresa Petrobras e desta forma poderá beneficiar também as cidades de São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul, também no ABC. A proposta é orientar 60 mil famílias por mês. Segundo José Aparecido Barbosa, gerente de comunicação institucional da região São Paulo-Sul da Petrobras, a empresa, que já tem uma política interna de investir em projetos ambientais - em 2005, por exemplo, foram investidos R$ 40 milhões em projetos com foco na questão da água - decidiu apostar no Casa a Casa pelo seu caráter inovador no sentido de envolver a comunidade local na preservação da natureza.
"É interessante pensar que o projeto cria um novo hábito na casa que pode ser replicado para muito mais pessoas. Além disso, o fato do agente ir até a residência, cria uma relação de proximidade e intimidade muito maior para uma melhor conscientização", comenta o gerente, lembrando a importância de se estabelecer esse tipo de parceria - empresa e entidade social - em busca de soluções para os problemas que atingem a sociedade.
Primeiros passos: Eduardo Maki, coordenador do Instituto, explica que a idéia da ação surgiu a partir de uma insatisfação e o desejo de mudança de um grupo de amigos. Ao estudarem as propostas das Agendas 21 Locais, eles perceberam os desafios e as dificuldades em comunicar à população que existem formas interessantes de se fazer ecologia urbana.
"O jeito mais fácil que encontramos de levar essa informação é bater de porta em porta. Com a proposta de não fazer uma visita só porque não há conscientização, mas sim com visitas mensais", comenta Eduardo, lembrando que os agentes distribuem também aos moradores a revista Planeta Cidade sobre meio ambiente.
Durante as visitas, o material recolhido é contado e separado em recipientes adequados para serem encaminhados ao Instituto. Todo o óleo vegetal é levado para uma usina própria. O resíduo passa por reciclagem e se transforma em sabão para ser comercializado também pelos agentes durante as visitas. São produzidos cerca de 2 mil produtos por dia e o pacote com cinco unidades custa R$ 3,00. Além de garantir a auto-suficiência do Instituto, a operação também gera emprego e renda para os jovens agentes ambientais. Eles recebem uma bolsa-auxílio para realizar o trabalho e é dada preferência para aqueles que estão em busca do primeiro emprego. Tais dos Reis, 19 anos, por exemplo, está há duas semanas no Instituto, e diz que está muito contente com o trabalho, pois sempre gostou de ajudar e agora colabora ainda com a preservação ambiental.Paciência e persistência acima de tudo. Mas a tarefa de levar informações à população de casa em casa não é tarefa fácil. Nem sempre os agentes são bem recebidos e é comum os moradores não valorizarem de fato essa ação.
"Na primeira visita, tem morador que nem atende a campainha. Na segunda, já atende e presta atenção nas informações. Na terceira, já cobra o vizinho pra participar também", destaca Eduardo. E quem vive isso de perto no dia-a-dia sabe muito bem como é complicado ouvir um não. "É difícil. Tem muita gente que não quer saber. Mas os idosos prestam mais atenção. Ontem mesmo um senhor disse que já conhecia o trabalho e gostava muito. Isso é bom. O importante é ressaltar para os moradores que estamos trabalhando para as gerações futuras", aponta Bruno. E aqueles que ouvem bem as orientações dos agentes concordam com a importância da participação de todos para a preservação do meio ambiente. A moradora Cristina Rocha acredita que o mínimo que ela pode fazer para colaborar é separar corretamente o lixo. "Tem muita gente que diz que não vai fazer nada porque sozinho não adianta. Só que se todo mundo pensar assim nada vai mudar. É preciso fazer algo", acredita. Segundo o coordenador do Instituto Ação Triângulo, a proposta da organização é que a ação Casa a Casa se torne auto-sustentável para, em breve, poder ser replicada em outros centros urbanos. Já há interesse de diversas outras entidades do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Norte, por exemplo, em desenvolver a mesma atividade nestes locais.
Texto produzido pelo Serviço Instituto Ação Triângulo
Endereço: rua Conselheiro Justino, 448, Bairro Campestre, Santo AndréTelefone: (11) 4991-1112 Site: www.triangulo.org.br

6 Comments:

  • At 2:25 AM, Blogger Luiz Afonso Alencastre Escosteguy said…

    Tá certo, para mudar o mundo muda-se primeiro a cabeça do homem. BEla inciativa essa. abração

     
  • At 4:41 AM, Blogger Ronzi Zacchi said…

    Iniciativa muito supimpa, a concentização é o único caminho.

     
  • At 6:31 AM, Blogger Paulo de Tarso said…

    D. Afonzo e Ronzi,

    Exemplo para nós que somos cheios de idéias. Esta é simples de executar e tem que ser bem propagandeada. Em nosso país temos a mania de darmos mais destaque para as coisas ruins.

     
  • At 1:09 PM, Blogger Bruno Capelas said…

    Eita preula... é aqui pertinho. E eu nunca ouvi falar nesse negócio!
    Mas é sempre bom saber.

    Um abraço!

     
  • At 3:29 PM, Blogger Unknown said…

    Òtema a idéia!!!
    Beijo e aproveite a Europa!!

     
  • At 3:57 PM, Blogger Paulo de Tarso said…

    Mutatis e edu,

    Apesar de tudo o que lemos nas Vejas e Folhas da vida, existem coisas muito legais aocntecendo na grande Sampa.

    abs,

     

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