Não sei jogar

Sei que é muita pretensão da minha parte, mas a idéia desse (mais um) blog é retratar o dia-a-dia através das lentes (onde estão os meus óculos?) tão pouco usadas por todos nós...

Saturday, December 10, 2005

São tantas emoções


Terça-feira ensolarada, primeira hora da tarde, estava eu completamente entretido com o trabalho, quando fui avisado que havia alguém na recepção a minha espera. Como não havia marcado nenhuma reunião, perguntei (reclamando) a Leonor quem era, mas só para variar um pouquinho, ela não soube me dizer.

Fui até a porta de entrada contrariado, achando que teria algum incômodo justo na hora do almoço. Ao ver a figura impoluta me esperando, abriram-se sorrisos em ambas as partes seguidos de fortes abraços. Era meu primo querido, que eu não via há tempos.

Sem saber bem o que fazer com a visita, fui apresentando-o a todos por quem passei até chegar no meu setor. A conversa ameaçava fluir durante horas: notícias de parentes, trabalho, música, país, Cris, Guilherme. Resolvi convidá-lo para almoçar, ele relutou e depois sugeriu que fosse na casa dele para não haver gastos financeiros. Respondi rindo que era por minha conta e fomos para um pequeno restaurante com dois ambientes. Escolhi o serviço self-service que é incomum nos bons restaurantes do centro da cidade, que há muito está tomada pelo almoço a quilo. Mesmo vendo a mesa farta a sua frente, perguntou-me se poderia repetir, disse-lhe que sim e imediatamente ele lotou o prato de saladas de todos os tipos. Parecia criança diante da fartura de doces oferecidos por algum adulto. Era um simples almoço, num lugar um pouco diferente onde duas pessoas se reencontravam. O dia estava ensolarado!

Quase não consegui comer. Não por falar durante o almoço, mas porque precisava escutar cada palavra atentamente. Queria entender e depois poder revolver na memória as histórias.

Ele reviveu o processo de demissão no trabalho: a rede de fofocas em que foi envolvido; as conseqüências disso após sua demissão; a falta de recursos até para comer o que bem entendesse. Falou da situação dos trabalhadores na sua área (educação física) e demonstrou o desejo de aos 40 anos, de abandonar a profissão. Por um lado já não agüentava mais ver tanta exploração, por outro achava que encontraria condições semelhantes em outros ramos de trabalho. Pensei que seria fácil ajudá-lo, mas desisti e sugeri que ele organizasse os trabalhadores da academia. Que montassem uma empresa, onde não houvesse sonegação de INSS e FGTS. Que as pessoas tivessem a carteira profissional com o valor real dos seus salários. Que seus atestados médicos, quando faltassem, fossem reconhecidos. Que pudessem folgar pelo menos dois fins-de-semana por mês. Enfim, que criassem uma empresa ou cooperativa onde o ser humano não tivesse como princípio a exploração do seu próximo.

Ele me respondeu que uma das professoras havia ligado para ele propondo algo, eu me entusiasmei com a idéia, marcamos novo almoço na próxima semana. Dessa vez será a três: mais idéias, assessoria ao projeto, planos estratégicos. Uma rápida emoção cruzou nossos pensamentos. Podemos vencer as intempéries.

3 Comments:

  • At 7:51 PM, Blogger Syrena said…

    É por essas coisas que amo tanto você... Depois sou eu quem sai a socorrer o mundo! Presta atenção em vc Paulo, se eu sou assim, vc é igualzinho a mim! O único problema, e isso eu posso falar pq, de agora em diante, sou IGUALZINHA, é que salvamos o mundo, mas esquecemos de cuidar de nós mesmos... Pensa nisso, e cuida um pouquinho de vc tá? Pq senão eu vou ter q entrar em ação...
    Bjs

     
  • At 10:29 AM, Blogger Olha...e se eu pudesse entrar na sua vida... said…

    peulou, esse seu primo eh aquele seu primo dez, sempre astral a mil, a roubar os brigadeiros dos aniversarios do mundo?
    manda beijo pra ele e tomara que daih surja um projeto lindo, como tantos em que vcs jah se envolveram. bjs p/ vc e p/ ele!

     
  • At 11:17 AM, Blogger Sue said…

    Paulo, seu entusiasmo e sua solidariedade sao realmente admiráveis! Também conheco um professor de educacao física meio desiludido com o mundo, tb já com idade avancada para a profissao, mas em busca de novos horizontes. Quem sabe a gente nao os coloca em contato?
    Gd bj
    Suli

     

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