Não sei jogar

Sei que é muita pretensão da minha parte, mas a idéia desse (mais um) blog é retratar o dia-a-dia através das lentes (onde estão os meus óculos?) tão pouco usadas por todos nós...

Sunday, November 27, 2005

Enquanto eu espero.


Dia 27 de novembro de 2005. São 12:41 minutos quando começo a escrever este texto. Guilherme no quarto jogando Ragnarok e ouvindo o cd novo que ganhou do padrasto. O músico parece ser bom, um tal de Santana que resolveu ao ficar velho, gravar uma série de discos com convidados. O trabalho tem participações que vão da gatinha Michele Branch até o velhão do Steven Tyler (Aerosmith). Para quem não conhece o Steven, ele é pai da ex-ninfeta Liv Tyler. Só falta você me dizer que não viu “Armagedon” e nem “O Senhor dos Anéis”. Nesse caso, posso afirmar categoricamente que você tem algo pessoal contra a família Tyler. Carlos Santana é competente e tem uma banda afinada há muitos anos tocando com a mesma formação. A título de informação, nos trabalhos individuais ele assina Carlos Santana. Quando pertence a banda ele apresenta-se como Santana. Um ídolo do rock farofa faz a mesma coisa copiando a fórmula do Carlos.
Falando um pouco de “All that I am”, apesar do virtuoso guitarrista, o projeto em sua terceira versão já gastou o formato.Prefiro os outros trabalhos: “Supernatural” e “Shaman”, principalmente pelos convidados e depois pela variação das músicas. Parte do dinheiro das vendas vai para a fundação do músico, que ajuda crianças do mundo inteiro, inclusive do Brasil. Por isso não gastei dinheiro em vão, como todo brasileiro, adoro dar dinheiro para ajudar campanhas, fundações, etc, sem saber direito o que vão fazer com a grana. No caso do Carlos , prefiro acreditar piamente na proposta, pois nesses anos todos ele não acumulou fortuna. Talvez por ser latino, radicado num país (EUA) que trata seus vizinhos como cucarachas. Talvez por suas crenças pessoais, ele sempre foi seguidor de correntes religiosas indianas. Chegou a fazer três trabalhos usando o termo indiano Devadip antes do nome. Por sinal, excelentes trabalhos. Um deles em parceria com o monstro do jazz John McLaughlin (ex-Mahavishnu Orchestra), que tivemos a oportunidade de ver no Tim Festival. Além de trazer músicos indianos, tocou sentado contrariando a lógica exibicionista de muitos guitarristas. Quem quiser conferir qualquer desses cds, eu recomendo. Embora é bom avisar que, só na segunda audição você se acostuma as misturas de rock, música latina e indiana. Guilherme é um cara de sorte por viver numa casa musical. Enquanto meninos da idade dele estão escutando Felipe Dylon, Shakira e similares, ele vai de Vinicius a Strokes sem preconceitos quanto aos anos de distância entre eles.
Preciso me arrumar, daqui a pouco Cris estará chegando na cidade maravilhosa. De lá sigo para o lançamento do Blog de Papel. Depois eu conto mais ou não...
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Saturday, November 26, 2005

Chove Chuva,

... chove sem parar”..., como dizia Jorge Ben (jor) em um antigo sucesso.
Ontem, fui dormir ouvindo o som da chuva e acordei doze horas depois com o mesmo barulho. Chuva forte em uma cidade média. Cercada por 65 favelas e totalizando quase 500 mil habitantes. O maior problema que temos é onde colocar o lixo. O único aterro sanitário (Morro do Céu) foi condenado pelo MPMA. A Prefeitura tentou fazer acordos com outras cidades, mas não houve consenso na questão por conta do dinheiro. Nenhum Prefeito se importa de ceder sua cidade para construção de aterro sanitário, desde que receba uma boa quantia monetária.
Enfim, aqui estou bem devido ao meu bairro não ter sido atingido. Mas, isso é o que menos importa. Duas casas desmoronaram.Um barraco no Morro do Preventório (com uma família inteira) que precisou da ajuda do Corpo de Bombeiros para serem retiradas dos escombros. A outra casa era de alvenaria e ficava no bairro de São Francisco (zona sul), com uma criança de 10 e uma mulher de 22 anos ficando soterradas. O bairro de Icaraí (zona sul) ficou parcialmente alagado devido ao Rio Ary Parreiras ter enchido. O bairro de Piratininga (região oceânica) onde a rede de esgoto não deu conta, teve mais de um metro de altura de água dentro das casas.Seus moradores perderam todos os eletrodomésticos. Felizmente, ao contrário da capital, ninguém morreu.Por conta da enchente, não falarei de doença hoje, como era minha intenção. Nessas horas, nossos problemas ficam muito pequenos diante do mundo.
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Thursday, November 24, 2005

Apolonio

Cheguei em casa um pouco depois das 18 horas. Com sono por causa do remédio que estou tomando para a dor na perna. Achei que dormindo um pouco, daria para ir na homenagem póstuma a Apolonio. Só que acordei às 20 horas, e mesmo assim porque Cris ligou para saber se tudo estava bem." Exceto eu que durmo como um prego, todos estão muito bem”, respondi conformado com a vidinha de soneca. Decidi homenagear Apolonio de Carvalho do meu jeito, pois mesmo com dor, sinto muita vontade de escrever. Isso tem sido bom demais!
Apolonio de Carvalho, morreu no dia 23 de setembro , aos 92 anos, anistiado, porém não reconhecido pelo Exército Brasileiro. Observem que ele foi preso pela primeira vez por enfrentamento com a Ditadura Vargas, no ano de 1935. Após sua libertação, segue para a Espanha, onde junta-se as tropas de milicianos que defendiam a República Popular contra o nazifascismo de Franco. Derrotado, segue para a França, onde junta-se a Resistência Francesa, liderando os maquis e tornando-se responsável por importantes vitórias contra as forças alemãs. Entre as três cidades que libertou estava a bela cidade de Touloose.
Nesse período, apaixona-se por Renée, uma adolescente pertencente a uma família de comunistas franceses. Após o término da guerra, partem para o Brasil. Era o ano de 1947. Enfrenta o Golpe Militar de 64, é preso e torturado, até que um comando guerrilheiro consegue trocá-lo pelo embaixador alemão .
Vive seu exílio na Europa, reexaminando criticamente a trajetória das esquerdas brasileiras. Começa a formar em seus pensamentos a necessidade de formação de um partido de massas, sem os ranços da esquerda tradicional.
Apolonio talvez seja o único herói de duas guerras. Se existem outros no passado recente, não são brasileiros. Nem participaram de lutas tão importantes quanto as da Espanha e da França.

Vou encerrar o texto colocando a homenagem de um amigo de trabalho que conviveu com Apolonio durante os anos de chumbo que nosso país viveu.

“ Há homens que sabem pensar, há os que sabem dizer, há os que sabem sentir. Homem de verdade é aquele cujo pensamento agudo recebe da sensibilidade a emoção para convertê-la em idéia, que vai ser transformada numa causa nobre. Apolonio de Carvalho, com seu riso de criança, nobre e puro, seu desprendimento, honestidade, generosidade, solidariedade e luta sempre a serviço da humanidade é a síntese do homem com tal dimensão humana.” Antonio Leite
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Wednesday, November 23, 2005

Texto curto.

Serei breve para não tomar muito o tempo de quem tem o mau costume de ler os textos deste blog.

Cris viaja amanhã, já estou imaginando que Guilherme vai viajar para a casa dos amigos. O que não é nada mal para ele: comida à vontade, não precisa tomar banho, dorme tarde e acorda mais tarde ainda. Vou ficar só, o que é melhor do que mal-acompanhado.

Já prevendo tudo isso, resolvi extravasar minha solidão enfiando o pé na jaca. Já tinha vendido a máquina fotográfica por estar defasada no tempo e no espaço digital. Portanto, tinha que comprar outra antes que a patroa falasse que não poderia tirar alguma foto. Geralmente da gata ou da cachorra, às vezes do Guilherme ou de mim e de vez em quando de situações amenas da vida.Arrastei a jornalista que trabalha comigo e escolhemos uma máquina pela metade do preço no ed. Av. Central. Melhor do que isso só na galeria do chinês em São Paulo. Por conta dessa compra não consigo convencer Cris a levar a máquina para a tal da formatura da Mariana. Vou ter que fazer um seguro para resolver esse probleminha
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Tuesday, November 22, 2005

Eu e as Rádios

Ontem, Cláudio Salles me ligou pedindo que o substituísse em um debate. Seria uma discussão sobre “Democratização dos Meios de Comunicação e as Rádios Livres”. Ao aceitar fiquei pensando como me preparar para falar para universitários da UFRJ. Tenho material sobre rádios de diversas épocas. Fico achando que enquanto o país se moderniza (já existem três rádios transmitindo digitalmente), a discussão sobre “democratização” está no mesmo pé de quando começou nos anos 80.
O debate seria com representantes da Rádio Pulga (UFRJ/IFCS), Rádio Interferência (UFRJ/Comunicação) e CMI (Centro de Mídia Independente). Com uma hora de atraso, devido a aula de um professor (que esqueceu de se aposentar), um debate entre chapas pra eleição do C.A. e uma assembléia de alunos, lá fui eu aos leões. (Como a rádio Pop Goiaba ficou demasiadamente em evidência, toda semana tem convite para debate ou entrevista).
Na platéia, sete alunos sobreviventes das atividades do IFCS (Instituto de Filosofia e Ciências Sociais). Na mesa, todos os convidados, exceto o pessoal do CMI que ligou dizendo que a condição para que fossem era de não falarem, por causa da timidez de todos.
Confesso que li tudo o que podia, além de repassar mentalmente informações vitais sobre o sistema de radiodifusão brasileiro, que é muito ruim. Mas na hora H, olhei a platéia e prestei atenção no que dizia cada debatedor. Acabei mudando toda a direção do que ia dizer. Em vez de falar de números, falei do dia-a-dia; em vez de contar a história das rádios livres no mundo, falei sobre música independente e a luta contra o jabá. E assim falamos durante uma hora sem deixar a platéia fazer perguntas. Imaginei que tinha sido um fracasso total. Ao final, fui procurado por um casal que me disse ter gostado do que eu tinha falado e que tinham vontade de montar uma rádio na Baixada Fluminense. Como adoro procurar sarna para me coçar, ofereci ajuda no que eles precisassem na parte de infra-estrutura. Combinei com as rádios organizarmos festas (rádios livres nunca tem anúncio) para arrecadarmos dinheiro para as despesas com equipamento. Fui embora a pé, enquanto os meninos da Interferência pegavam seus skates e partiam de volta para casa. Me senti tio dos universitários, mas saí convencido que essa história de rádio nunca vai morrer. Pois aqueles meninos mostraram no debate a preocupação de no ano que vem, quando entrarem novos alunos, trazê-los para o movimento da “Reforma Agrária no Ar”.
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Monday, November 21, 2005

Rosangela e a Cultura

Moro em um estado onde a Escola Pública não é o que podemos dizer aplicadora do ensino laico. Há um ano atrás a governadora Rosangela (Rosinha) Matheus, conseguiu aprovar lei tornando obrigatório o ensino da religião nas escolas. Muito religiosa, trouxe para o governo estadual suas convicções de fé. Mas, para quem não sabe nossa governadora também é amante das artes. Ela mesmo, apesar das críticas, é atriz e sempre que pode atua em peças no fim do ano. A bem da verdade, os projetos culturais do seu governo não funcionam ou melhor, sequer existem. Recentemente, ela pagou prêmios de incentivo a artistas de teatro, por trabalhos agraciados quando seu marido era governador. O fato já estava sendo considerado como o maior calote da história das artes cênicas do país. No final, tudo acabou bem, sem juros nem correção monetária, é claro. Nos últimos anos por conta da falta de público (ingressos pela hora da morte), os cinemas vêm fechando em ritmo acelerado. A maioria, talvez, em homenagem ao nosso governo, acabam virando igrejas rentáveis. Mas, como tudo na vida é possível mudar, a sra. Rosangela Matheus tenta suprir nossa carência de cinemas através dos centros culturais. Vejam a vasta programação do mês de novembro que segue abaixo:
CASA FRANÇA-BRASIL
• 03/11 – 18h30 O CASTELO DAS TARAS de Julius Belvedere. São Paulo, 1982.Com Esmeralda Barros, Sebastião R Siqueira, Dorival Coutinho, Margareth Souto. Alunos de parapsicologia são levados por professora aum castelo isolado onde devem fazer pesquisas. Ao chegarem, a mestra se revela uma sacerdotiza do mal e invoca o espírito do Marquês de Sade, que volta para tiranizar os pupilos.
• 10/11 – 18h30 O BANQUETE DAS TARAS de Carlos Alberto Almeida. Rio de Janeiro, 1982.Com Aladir Araújo, Cidéia Barbosa, Jotta Barroso,Kelly Berg, Sônia Bruna, Bianca Blonde, Eva Canto,Newton Couto, Elisabeth Fairbanks, Ed Heath, CristinaKeller, Sérgio Madureira. O paranormal Gregor Nastase acaba de chegar em NovaFriburgo, vindo da Transilvânia. Ele quer conhecerVladmir Vladislav, jovem escultor que é o descendente direto do Conde Drácula. Usando seus poderes telepáticos, Nastase vai convencer Vladislav a capturar e sacrificar quatro jovens mulheres.
• 17/11 – 18h30 TARA DAS COCOTAS NA ILHA DO PECADO de Antônio B. Thomé. São Paulo, 1980.Com Nilza Albanezzi, Daliléia Ayala, Zélia Diniz,Tânia Gomide, Zilda Mayo, Jack Militello, MárcioPrado, Clayton Silva. Gangue de garotas sequestra um jovem astro da músicapopular que tem um mapa do tesouro tatuado na bunda.História original escrita pelo montador Silvio Renoldi(de O Bandido da Luz Vermelha).
• 24/11 – 18h30 O FILME SURPRESA de novembro é uma pérola tão obscura que merece alguns comentários. Trata-se de um média-metragem de 40 minutos, extraído do filme de episódios Aqui, tarados (dirigido e produzido por David Cardoso). Sexo e sangue na Boca do Lixo! Pequena obra-prima do cinema de horror nacional.
Em OUTUBRO, o cinema da CASA FRANÇA-BRASIL esteve fechado para obras.
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Saturday, November 19, 2005

Tremendão


A capa acima pertence ao CD alusivo ao LP (long play) de Erasmo Carlos de 1970. Na minha memória vem o primeiro sucesso do Tremendão, que antes havia lançado (1969) um compacto simples com a música Sentado à Beira do Caminho.(“Eu não posso mais ficar aqui /A esperar/Que um dia de repente você volte/Para mim...) Na época eu tinha nove anos e ficava trocando de estação de rádio o tempo todo, procurando a tal da música, pois lá em casa não tínhamos vitrola. Nosso rádio era grande o suficiente (valvulado) para tocar a todo volume como se fosse uma vitrola. Para eu enganar os vizinhos e me enganar, mudava de estação antes que o locutor anunciasse algo... Nos meus nove anos sonhava com uma vitrola, mas já sabia que Papai Noel não existia e que minha mãe não tinha dinheiro para comprar..
Erasmo levou dois meses para compor o sucesso da sua vida (disputando nesse LP com Coqueiro Verde e Vou Ficar Nu para Chamar sua Atenção), pois, naquela época, músico tinha que excursionar e mal tinha tempo (por falta de estrutura) para dormir. Bem diferente dos dias de hoje, quando eles praticamente se retiram da vida mundana para comporem suas músicas. Para quem acha Erasmo brega, é bom lembrar que nesse LP têm gravações de Caetano Veloso, Antonio Adolfo e Vítor Martins (parceiro de Ivan Lins). Esse trabalho é considerado início da fase pós Jovem Guarda, quando Erasmo muda para o Rio e compõe Coqueiro Verde (“Em frente ao coqueiro verde/Já esperei uma eternidade/Já fumei um cigarro inteiro e meio/E Narinha não veio...”). Podemos chamar essa música de hino da época – Leila Diniz, Pasquim, etc – marcas da Ipanema do ano de 1970. Erasmo assina com uma grande gravadora (Phillips) deixando a RGE e iniciando uma fase prolífica da qual voltarei a falar se algum leitor se interessar é claro!

Aqui vai o set list para quem quiser correr atrás de Erasmo Carlos e os Tremendões:

Estou dez Anos Atrasado
Gloriosa
Espuma Congelada
Teletema
Jeep
Sentado à Beirado Caminho
Coqueiro Verde
Saudosismo
Aquarela do Brasil
A Bronca da Galinha
Menina
Vou ficar Nu para Chamar sua Atenção
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Friday, November 18, 2005

Campanha nacional: por uma CPI da mídia!

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Thursday, November 17, 2005

Dia 20

Bom, falemos de assuntos amenos. Que tal consciência? Legal! Todos gostam de falar a manjada frase “temos que ter consciência”. Não precisa ser rapper para viver falando em consciência, conscientização ou qualquer palavra derivada. “Menino, você precisa ter consciência do que faz”, dizem as mães. E por aí vai... Palavra mais usada verbalmente do que colocada em prática, que dá um ar severo a quem usa, que demonstra força a quem diz possuir.
Então vou falar do dia 20 de novembro, “Dia Nacional da Consciência Negra”. No Rio, as crianças e até muitos adultos, chamam de feriado do Zumbi. Usa-se a data alusiva a Zumbi dos Palmares para se discutir a consciência negra.
Vamos falar da consciência negra, até porque se a consciência em si já está difícil de ser encontrada, imaginem a negra. Os dados são desfavoráveis para qualquer discussão positiva a respeito: 50% da população é negra; os salários mais baixos do mercado são ganhos por negros, sendo que as mulheres negras recebem menos ainda; somente 5% dos cargos de chefia são ocupados por negros; 90% dos moradores de favelas são negros, e por aí vai. São tantas estatísticas que eu prefiro fugir delas e me ater ao que vejo e ouço a respeito da sociedade racista em que vivemos. Minha família mora no interior da Bahia, embora todos sejam cariocas. Gostam de morar lá como todo turista que visita o estado que recebeu Cabral, quando ele estacionou sua caravela em nosso país. De vez em quando eles vão visitar a bela Salvador, cidade povoada por população negra, embora dominada até hoje pelos coronéis brancos. Basta visitar o shopping para você notar que os negros não trabalham como vendedores. Lá os shoppings contratam por “boa aparência”. Só para a gente botar a imaginação para funcionar, existe uma cidade ao lado da que moram meus familiares, chamada Caravelas. Conta a história local, que os negros escravizados por lá, souberam da abolição seis meses depois, pois os senhores “esqueceram" de avisá-los que eles tinham se tornado livres. Isto levou seis meses para ser descoberto pelos então escravos e gerou uma revolta sem precedentes no local. Conclusão: os brancos foram expulsos da cidade e seus bens foram tomados pelos negros duplamente humilhados. Eu diria que foi a primeira ação de danos morais realizada coletivamente em nosso país com ganho de causa para o prejudicado. De lá para cá, o que mudou? Os negros no Rio foram exilados em favelas, pois seus senhores se recusavam a empregá-los. O analfabetismo foi usado como arma para que eles não pudessem evoluir socialmente. A discriminação que não podia ser mais através do tipo de trabalho, passou a se dar de todas as formas possíveis, além das que já eram usadas durante a escravidão. Como na canção Morro Velho do Milton Nascimento:

Filho de branco e do preto.
Correndo pela estrada atrás de passarinho
Pela plantação adentro...
...Filho do sinhô vai embora
Tempo de estudar na cidade grande
Parte, tem os olhos tristes
Deixando o companheiro na estação distante
Não me esqueça, amigo, eu vou voltar...
...Quando volta já é outro...
...Já tem nome de doutor
E agora na fazenda é quem vai mandar
E o seu velho camarada já não brinca, mas trabalha
.”

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O dia que ainda não acabou...


Hoje eu acordei cedo. Esperei Guilherme, o jogador, e Cristiane, minha patroa, se arrumarem para a escola. Tomei um bom banho, depois de um café fraco e apressado, para poder começar o dia. Meus objetivos eram me matricular no curso de espanhol e marcar uma consulta médica. Pensam que é coisa fácil? Não em Niterói. Não basta ter plano de saúde, nem encontrar um curso com salas amplas e professores disponíveis. Os meus propósitos faziam parte do começo de um fim, se estou me fazendo entender...
Liguei para o curso de Espanhol que tem convênio com aval do Governo Espanhol, utiliza o método da Universidade de Salamanca e ensina a língua em um mês. O básico, é claro! Yspanus. Podia ter um nome mais atraente, mas a diretora é filha de dono de empresa de ônibus, portanto não conseguiu pensar muito em nomes e torrou o dinheiro do pai montando um curso de língua estrangeira. Atendeu-me uma secretária/recepcionista, informando que até o momento não tinha sido formada a turma de no mínimo 4 alunos. Ela estava aguardando os futuros alunos até a próxima sexta para definir o início das aulas. Pensei em outro curso (Wizard), mas lembrei da dor...
A dor tem caminhado (literalmente) comigo há 3 semanas. Todos os dias alterando apenas a hora quando estou caminhando. Depois que ela surge tenho câimbras do joelho até os pés... Resolvi ir à acupuntura, até a terceira sessão não houve nenhuma melhora além do dia do tratamento. Desisti! Marquei terapia (com uma médica), fiz longa entrevista (esta é minha vida), na primeira sessão ela arriscou um veredito: “Deve ser hérnia de disco e talvez não precise operar”. Eu que estava apostando tudo nos problemas emocionais, saí concordando com a definição que ela deu: está tudo interligado: mente, corpo e emoção... Me indicou dois ortopedistas para darem o veredito final e lá fui eu atrás do prejuízo.
Por causa da frustração do espanhol, lembrei-me da dor. Liguei para a clínica, a recepcionista informou-me que o Dr. Jackson Ferreira (seria meu parente?) estava atendendo, mas só a telefonista poderia agendar consulta. Esperei uma hora para falar com a telefonista/agendeira e sabe-se lá mais o quê. Ela, muito objetiva, me disse que só tinha vaga para o próximo ano e que o tal doutor não tinha consultório ou outra clínica para me atender...
Voltei a pensar na dor, em ir a qualquer médico mesmo sem uma boa indicação e sentar num cantinho do apartamento e contar para as pessoas o que estou sentindo. É mais do que dor!!! Eu tive certeza disso, quando a terapeuta me mandou desenhar minha perna. Eu não sei desenhar. Nem casinha com árvore do lado e nuvem com sol em cima eu consigo fazer direito. O que me consolava até agora era saber que Miró não sabia desenhar. Quando ela determinou a tarefa, peguei lápis (grafite e cera) e fui pra cima do papel. Pela primeira vez na minha vida, desenhei um par de pernas, não as torneadas da MM. Desenhei minhas pernas desengonçadas e fiquei feliz de poder expressar minha dor num desenho. Ainda colei três figuras nelas: um ovo com olhos (rs...), a cara do Batman encapuzado e um par de olhos femininos. Se soubesse desenhá-los ia ilustrar o blog com eles para finalizar o texto. Sobraram para terminar a história: marcar consulta, fazer exame e quem sabe descobrir quando começou a dor...
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Tuesday, November 15, 2005

Apresentação

Hesitei semanas, até sucumbir diante das forças ocultas que agem em nossas mentes. Por favor, não pensem que eu estava querendo me suicidar! Até porque, com o resultado do referendo que permitiu o comércio de armas, eu tenho todo o direito de comprar uma arma. Para quê??? Matar a todos que eu estou devendo: o espanhol dono do banco em que tenho conta, o dono do supermercado que aumenta os preços toda a semana, o dono da empresa de ônibus que dá ordem para o motorista não transportar idosos ou estudantes, etc, etc, etc...
Tanta gente que eu queria que morresse por conta do resultado do referendo, que eu desisti da idéia de ser o carrasco, quando lembrei que cadeia é para pobre, preto e prostituta.
Na verdade, a minha resistência que durou quase dois meses era se criava um blog. Vejam a minha situação: moro com uma excelente blogueira e com um excelente jogador de Ragnarok . Conclusão: ou aprendia a jogar ou virava um blogueiro. Não sei se vou conseguir mas vou tentar. Minha meta é conseguir um leitor em um ano. Não precisa gostar do meu texto!!! Precisa apenas ser curioso, observador e crítico para que sempre deixe mensagens sobre o que eu escrevi. Esse(a) leitor(a) ao final de um ano se continuar vivo (a) poderá passar o Natal comigo para tentar entender os motivos dos meus escritos. Entendam bem, não é um presente para o leitor, é um teste de resistência para tirar a má impressão sobre mim e ter confirmadas suas dúvidas sobre minha personalidade. Quem sabe nesse Natal eu (e meu fã) seja convencido a aprender a jogar Ragnarok. Quem viver verá!!!
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